5 mitos sobre o sono do bebé

Lembro-me claramente, como a maioria das mães tenho a certeza, do preciso momento em que dei à luz o meu primeiro filho. Estava absolutamente inundada em sentimentos de amor e gratidão. Cerca de dez a quinze segundos depois, fui igualmente inundada em conselhos, sugestões e informações. Tudo isto foi-me atirado com as melhores intenções, mas foi, no entanto, esmagador. Não consigo imaginar o número de vezes que ouvi as palavras: "Devias", "Vais querer" e "Tens de o fazer". É realmente extraordinário o número de sugestões que uma nova mãe recebe no seu primeiro ano de maternidade.

É claro que esses sentimentos de amor e gratidão persistem até hoje, e o mesmo acontece com as recomendações, sejam de um especialista, um profissional na área dos cuidados infantis ou da família e amigos. Não existe tal coisa como uma mãe casual. Este trabalho é a tempo inteiro, não importa se se é uma mãe que fica em casa, uma mãe que trabalha, ou algures no meio. Os seus filhos estão no seu pensamento 24 horas por dia, 7 dias por semana, não importa o que mais possa estar a acontecer, por isso tendemos a fazer muita pesquisa, e com acesso a dados ilimitados, quer seja através da Internet, da nossa mãe ou da nossa sogra. É, portanto, inevitável que obtenhamos alguma informação contraditória. Embora, quando se trata de crianças, penso que a discussão até eclipsa para a reivindicação de opinião como facto. Assim, vou tentar dissipar alguns dos mitos mais populares provenientes das mais variadas fontes: fóruns e grupos de mães, facebook, workshops, família, amigos, media, etc.

1. Dormir demasiado durante o dia vai manter o bebé acordado durante a noite. Não é provável, exceto em casos extremos. A menos que o seu pequeno esteja a dormir praticamente todo o dia e acordado toda a noite, provavelmente não precisa de se preocupar com a duração das suas sestas. Os recém-nascidos precisam especialmente de uma “tonelada” de sono. De facto, até cerca dos 6 meses, não recomendo que o seu pequeno esteja acordado por mais do que cerca de 2 horas de cada vez. Para os recém-nascidos, esse intervalo de tempo é ainda mais baixo: entre 45 minutos a uma hora. O que mantém os bebés acordados durante a noite, mais do que qualquer outra coisa é o excesso de cansaço. Pode pensar-se que um bebé exausto tem mais probabilidades de dormir a noite inteira comparado com um que dormiu todo o dia, mas na realidade é precisamente o contrário. A razão pela qual nos referimos ao bebé como estando "excessivamente cansado" é porque este perdeu a sua janela de oportunidade enquanto estava apenas cansado, sonolento e pronto para ir dormir. Quando isso acontece, o seu corpo começa a libertar cortisol para se conseguir manter acordado, o que claramente o impede de adormecer. Um bebé que tenha dormido bem durante o dia estará muito menos suscetível a falhar a sua janela de sono. Há variações substanciais dependendo da idade do bebé e da duração da sua sesta, mas até essa marca dos 6 meses, não é realmente invulgar que o bebé durma cerca de 5 horas por dia fora do sono noturno. Assim, se o seu pequeno ainda estiver dentro dessas diretrizes, simplesmente deixe-o dormir.

2. Dormir é um desenvolvimento natural e não pode ser ensinado. Dormir é natural, absolutamente. Todos acordam e voltam a adormecer várias vezes por noite, independentemente da sua idade. Portanto, não, não se pode ensinar uma criança a ter sono. O que pode ser ensinado, contudo, é a capacidade de voltar a adormecer de forma independente. Um bebé que tipicamente dorme mal não necessita de menos sono, nem está mais propenso a acordar. Ele apenas aprendeu a depender de assistência externa para voltar a adormecer quando acorda. Assim que o seu pequeno descobrir como adormecer sem assistência de fontes externas, ele começará a juntar os ciclos de sono sem esforço, e esse é o segredo para conseguir "dormir toda a noite”.

3. Os bebés ditarão naturalmente os seus próprios horários de sono. A ideia de que a fisiologia infantil é tão impecável, naturalmente programada para regular o horário de um bebé é, para ser bastante franca, caricata. Nada contra a Mãe Natureza, mas ela não nos oferece um bebé pronto a correr, como faz com o gnu azul, por exemplo. (A sério? A andar seis minutos após o nascimento? Em fuga de predadores no espaço de um dia? Os nossos bebés são mais giros, mas claramente não estão tão preparados para a batalha fora do útero!). Os bebés precisam de cuidados e ajuda extensivos no seu desenvolvimento, e os seus ciclos de sono são inacreditavelmente irregulares se não forem organizados. Se falharem o seu ciclo natural de sono em apenas meia hora, a sua produção de cortisol pode aumentar, o que causa um aumento de energia, e as coisas rapidamente se descontrolam. Por isso, por mais que desejasse que os bebés adormecessem quando estão cansados, simplesmente não funciona dessa forma. Isto não quer dizer que não se deva responder aos sinais do bebé, mas também não se deve confiar exclusivamente neles.

4. O treino do sono é stressante para o bebé e pode afetar a ligação entre pais e filhos. Não, de todo! E esta afirmação não é minha, mas sim da Academia Americana de Pediatria. De acordo com um estudo de 2016 conduzido por oito dos seus principais investigadores, a intervenção comportamental ao nível do sono, (também conhecida por “Treino do Sono”) proporciona benefícios de sono significativos e imensuráveis, mas não provoca stress adicional ou efeitos nocivos a longo prazo na ligação pais-filhos ou quaisquer outras consequências nefastas nas emoções e/ou comportamento da criança.

5. Os bebés não foram "concebidos" para dormir a noite inteira. Pondo de lado as nossas crenças religiosas por um momento, penso que todos podemos concordar que, mesmo que os bebés tenham sido "concebidos" de alguma forma, quem quer que tenha feito a conceção deixou bastante espaço para algumas melhorias! Confiar na fisiologia do seu filho para ditar o seu horário de sono, os seus hábitos alimentares, o seu comportamento, ou qualquer outro aspeto da sua educação, é uma receita para o desastre!

O seu filho foi concebido para comer três quilos de gomas de ursinhos? Certamente que não. Irá ele fazê-lo se não intervir? Sem dúvida. O seu bebé está concebido para evitar predadores? Se sim, ninguém disse aos meus pequeninos, que teriam abraçado de bom grado um tigre siberiano esfomeado se ele se aproximasse deles! Os nossos pequeninos precisam da nossa perícia e orientação para os guiar durante os seus primeiros anos, e provavelmente assim será durante décadas depois disso. Isto é especialmente verdade quando se trata do seu sono. Alguns bebés são naturalmente dorminhocos por excelência, com certeza, mas não confiem nos conselhos daqueles que vos dizem que os bebés devem ditar os seus horários. Os pais e/ou cuidadores são os responsáveis por isso, porque eles sim, sabem o que é melhor para os seus filhos mesmo que por vezes achem que não. Existem obviamente muitos mais mitos e conceções erradas em torno dos bebés e dos seus hábitos de sono, mas estes são alguns dos mais importantes para se conhecerem os factos. Lembre-se, há inúmeros posts nas redes sociais e em websites que se retratam como sendo factuais, e na verdade, nada os impede de fazer essa afirmação, independentemente da sua precisão ou base em provas científicas reais. Além do Google, poderá encontrar estudos científicos sobre a temática dos bebés através de fontes confiáveis, tais como a Sociedade Portuguesa de Pediatria, o Serviço Nacional de Saúde, a Organização Mundial de Saúde, a Academia Americana de Pediatria, entre outras organizações nacionais e internacionais de saúde infantil.



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